segunda-feira, 19 de julho de 2021

Cidadão chinês enviou milhões de euros para a Ásia em sacos e malas.

Os negócios da china, para os próprios, com o dinheiro dos portugueses!

“Durante mais de três anos, um cidadão chinês enviou milhões de euros para o país natal, em malas transportadas em aviões ou através de transferências bancárias injustificadas. Foi preso pela PJ. Origem do dinheiro é desconhecida.

Desde o início de 2018 que as cidadãs chinesas Junmin Xia e Fuxin Yu entravam e saiam semanalmente de Portugal. Por isso foi com naturalidade que a 2 de novembro desse ano Junmin Xia se deslocou ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, para embarcar num voo com destino a Istambul. Levava com ela uma mala que despachou para o porão. Tudo corria normalmente. Só que, quando se preparava para embarcar na porta N47, foi abordada pelas autoridades. Motivo: a bagagem continha vários sacos de tecido preto, cada um com inúmeros maços de notas num valor total de 602.400 euros.

Apesar do percalço da companheira, a 16 de novembro Fuxin Yu dirigiu-se ao aeroporto de Lisboa para apanhar um voo com destino a Varsóvia. Mas antes que o pudesse fazer, também ela foi detida pelas autoridades já que, na bagagem, levava também vários sacos pretos com 454.100 euros em notas.

As mulheres nunca revelaram a origem do dinheiro. Mas para além da coincidência de viajarem semanalmente, as autoridades perceberam que ambas indicavam como morada em Portugal o mesmo apartamento localizado no Parque das Nações. O imóvel tinha sido arrendado em janeiro de 2018 por alguém que se identificou ao proprietário como Xiangru Gong e que pagava uma renda mensal de 1.700 euros.

Contudo, os inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária (PJ) acabaram por perceber que Xiangru Gong era, na verdade, um empresário chinês residente em Linda-a-Velha chamado Jiang Bing. Teria sido ele a entregar o dinheiro com que as duas mulheres foram apanhadas no aeroporto.

A partir desse momento, de acordo com a investigação da PJ, Jiang Bing decidiu mudar de estratégia. Em vez de enviar o dinheiro para a China através de malas, por avião, passou a usar o sistema bancário.

Para isso começou por obter passaportes da República Popular da China com identidades falsas ou de terceiros, mas com a sua fotografia. Com esses documentos recorreu ao programa empresa na hora para criar firmas cujo único objetivo era ter um número de identificação fiscal que lhe permitisse abrir contas bancárias em nome dos seus responsáveis – que não existiam.

Foi assim que a 9 de abril de 2019 constituiu a sociedade Montrafidalga Unipessoal, Lda., em Lisboa, cujo sócio-gerente era identificado como Jiang Tao. Foi com esse nome que a 27 de maio abriu uma conta no Montepio Geral. Tinha também contas no Novo Banco, Millennium bcp e Caixa de Crédito Agrícola.

Com sede na mesma morada, a 31 de outubro de 2019 criou mais duas sociedades: a Classic Intuition Unipessoal, Lda. e a Rotunda Dourada, Lda. O gerente da primeira estava identificado como Liu Wei. O da segunda como Ziming Wang. Ambos eram a mesma pessoa: Jiang Bing.

Entram os bancos

Na posse da documentação das empresas, a 8 de novembro dirigiu-se a dependências diferentes do Montepio Geral e abriu duas contas, uma para cada empresa. Entre esse dia e 27 de julho de 2020, depositou 912 mil euros nas contas da Classic Intuition. No mesmo período transferiu 911.845 euros para contas na China. Para justificar as transferências, terá forjado faturas emitidas à ordem de sociedades espanholas sediadas em Madrid.

Só nas contas identificadas até ao passado dia 2 de junho de 2021, altura em que foi detido, Jiang Bing fez depósitos no valor de 1.844.715 euros entre 18 de novembro 2019 e 24 de julho de 2020. No mesmo período transferiu 1.837.975 para contas na China. Não justificou a movimentação dos fundos, já que as sociedades não apresentaram declaração de rendimentos às finanças. Há outras sociedades criadas pelo mesmo cidadão que estão ainda a ser investigadas.

Nesse dia em que foi detido, os inspetores da PJ encontraram no seu apartamento em Linda-a-Velha inúmeros documentos comprometedores. Desde logo os passaportes da República Popular da China com a sua fotografia mas em nome de Zhao Guanghi, Li Wenzhong, Liu Wei, Jiang Tao e Ziming Wang. Foram apreendidos ainda vários elementos sobre as empresas de fachada utilizadas para movimentar o dinheiro - cuja proveniência os investigadores ainda estão a tentar apurar.

No apartamento, os inspetores encontraram ainda uma catana com uma lâmina de 46 cm, uma máquina de contar dinheiro e 426.930 euros espalhados um pouco por toda a casa (ver caixa).

Presente ao juiz, foi indiciado pelos crimes de branqueamento, falsificação ou contrafação de documentos, fraude fiscal qualificada, detenção de arma proibida e contrabando. Ao todo, movimentou para a Ásia um “montante global de pelo menos 3.328.155 euros” atuando com o “propósito de ocultar e dissimular a origem e o destino daquelas quantias, bem sabendo que tal conduta não lhe era permitida e que, dessa forma, prejudicava o Estado português”. Foi posto em prisão preventiva, onde ficará a aguardar o desenrolar do processo.

Nuno Tiago Pinto

Sábado

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