quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A ANÁLISE POLÍTICA SEM REQUEBROS E TAL E QUAL COMO DEVE SER FEITA POR GENTE SÉRIA.

SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA CHAMOU-ME A BELÉM PARA EU  LHE FAZER A ANÁLISE DA PRÉ-CAMPANHA E DAS ELEIÇÕES REGIONAIS NA MADEIRA

O professor Dr. Marcelo Rebelo de Sousa chamou-me e disse-me:

— Olha, senta-te aí e faz-me a análise séria e sem requebros, típica de pessoas inteligentes como nós, da pré-campanha nacional e dos resultados das regionais na Madeira. Perante isto, fiquei um pouco surpreendido, porque ele próprio era um excelente analista, sem requebros, e não precisaria de ninguém, menos de alguém como eu, para lhe dizer o que provavelmente já teria concluído.

— O Senhor Presidente [e fui interrompido com um “chama-me Marcelo”]… O Marcelo tem o Marques Mendes ao domingo.

— Sim, mas ele imita-me muito e não sei se possa confiar.

— Tem o Paulo Portas…

— Já me enganou uma vez… Ou terei sido eu a enganá-lo? Não confio, de qualquer modo.

— O José Miguel Júdice…

— No geral, não posso vê-lo, porque a essa hora tenho compromissos.

— Aqueles todos da RTP3 e da SIC Notícias…

— Têm requebros e embirro com um, não acredito em dois, duvido de três e os outros não me dizem nada.

— Pois — acrescentei eu.

— Isso é grave. Sendo assim, como pode compreender o país?

— Exactamente, meu caro amigo. Faz falta um tipo como aquele que havia antes de eu ser Presidente e que, por modéstia, nem posso dizer quem sou.

— Não seja modesto, era mesmo o Marcelo…

— Infelizmente, adivinhaste… Mas o que posso fazer? Uma pessoa ou é comentador ou Presidente da República. Acho que não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, salvo se for muito subtil, como tem sido aquele que sabemos quem é e que por modéstia não direi quem sou.

— É verdade que tem sido um poço de talento nessa arte, mas olhe que o primeiro-ministro não lhe fica muito atrás…

— Perdão! O Dr. Costa será quando muito comentador e primeiro-ministro, não é por certo Presidente da República!

— Tem razão. Peço desculpa.

— Ora essa, um lapso quase todos têm. Digo quase porque há quem não tenha… Olha, o Jerónimo nunca se enganou. Disse sempre o mesmo. Mas vamos lá ao que interessa. O que me dizes do debate do Costa com o Rio?

— O Rio ganhou, talvez. Não?

— Não! Perdeu! Só o Vasco Pulido Valente é que percebeu  isso. O Rio perdeu por muitos, no entanto, ao ninguém ter percebido de que forma perdeu, funciona como se tivesse ganho, compreendes? Talvez os mais inteligentes achem que foi um empate, mas o Costa ganhou claramente. Porque a ideia dele era perder, para não esmagar o centro-direita e assim assustar o eleitorado de que necessita para a maioria absoluta. Percebes? E das regionais na Madeira, que opinas?

— Ganhou o PSD, mas o PS obteve muitos mais votos e o CDS consegue ir para o Governo. Sendo assim, só o PCP e o Bloco perderam verdadeiramente…

— Nada disso! Não és melhor do que os outros. Perderam todos na Madeira, vê lá tu. O PSD perdeu porque deixou de ter maioria absoluta; o PS perdeu porque queria vencer; o CDS perdeu porque passou de sete para três deputados; o PCP passou de dois para um e perdeu. E o Bloco desapareceu, não podia ter perdido mais. Vês, todos falharam! Tanta conversa para nada!

— É verdade — anuí eu, com algumas dúvidas escondidas.

— E mais: nas eleições de 6 de Outubro, o Costa perde. Porque se tiver maioria absoluta fica isolado no Parlamento. Se não tiver, é uma derrota. O Rio também perde porque não ganha. E os outros partidos, como se vê pelas sondagens, também perdem.

— Então perdem todos!

— Exacto! E isso vem reforçar o papel de um órgão de soberania que é sempre o último recurso da democracia. Saberás qual… Eu não sabia, mas ele foi-se embora.

COMENDADOR MARQUES DE CORREIA

Expresso

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