quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Dados da indústria agravam sinais de recessão na Alemanha.

A entrada em recessão técnica da maior economia da zona euro parece cada vez mais inevitável, à medida que vão sendo conhecidos novos dados de contracção na indústria durante o terceiro trimestre.

Numa altura em que os dirigentes políticos hesitam sobre se esta será a altura para abandonarem a sua política de Défice zero, a economia alemã, e em particular a sua indústria, voltou a mostrar sinais de fragilidade, que deixam poucas dúvidas quanto à possibilidade de entrada em recessão no terceiro trimestre deste ano. Depois de, na semana passada, diversos institutos de previsão económica alemães terem revisto em baixa as suas estimativas de variação do PIB para este ano e o próximo, ontem os indicadores de encomendas no sector industrial voltaram a comfirmar a tendência negativa que nele se vive, ficando mesmo abaixo daquilo eram as expectativas dos mercados. De acordo com o Ministério da Economia alemão, as encomendas feitas à indústria germânica caíram 0,6% em Agosto, prolongando o período de descida e superando pela negativa a previsão média de queda de 0,3% feita pelos analistas inquiridos pela agência de notícias Reuters. É na sua poderosa indústria que a economia alemã está neste momento a atravessar mais dificuldades. Com o receio de uma escalada da guerra comercial entre os EUA e a China e a ameaça de uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia já no final deste mês, as empresas exportadoras do sector industrial alemão estão a sentir na pele a diminuição da procura mundial. Neste momento, a Alemanha é o país da zona euro que mais está a empurrar para baixo a produção industrial no continente.

Sob novas ameaças

Na semana passada, a Organização Mundial do Comércio reviu em baixa as previsões de crescimento dos fluxos de comércio internacional, de 2,6% para 1,2% em 2019. A Alemanha, uma das maiores potências exportadoras mundiais, é naturalmente um dos países mais afectados. O cenário para a Alemanha corre o risco de se tornar ainda pior se, para além da concretização dos riscos relacionados com a guerra comercial EUA-China e com o “Brexit”, a Alemanha vir algumas das suas principais exportações, como os veículos automóveis, serem alvo de uma subida das taxas alfandegárias por parte dos EUA, como já ameaçou em diversas ocasiões o Presidente norte-americano, Donald Trump. Os dados ontem publicados pelo Ministério da Economia levaram a que, de forma unânime, os analistas reforçassem a sua convicção de que a economia alemã deverá ter entrado durante o terceiro trimestre do ano numa situação de recessão técnica.  No segundo trimestre, o PIB alemão registou já uma descida de 0,1% face ao trimestre anterior. E agora, à medida que se vão conhecendo os resultados sectoriais de Julho, Agosto e Setembro, parece cada vez mais certo que o mesmo tipo de resultado se irá repetir no terceiro trimestre. Uma recessão técnica é habitualmente declarada quando um país regista dois trimestres consecutivos de variação negativa do PIB. Tendo em conta a sua dimensão, é inevitável que uma contracção da economia alemã (a maior da zona euro) produza efeitos de contágio para as economias vizinhas. Isso será particularmente verdadeiro, se a perda de negócio no sector exportador levar a quebras de confiança entre os consumidores e os empresários, desencadeando uma travagem dos níveis de consumo e investimento do país.

Governo cauteloso 

Uma possibilidade de contrariar um cenário desse tipo seria o Estado passar a contribuir para o reforço da procura por via de uma política mais expansionista, acelerando o investimento público e as despesas correntes, por exemplo, os salários. Várias instituições, incluindo o Banco Central Europeu, têm recomendado este rumo para a política económica durante os últimos meses. No entanto, concretizar uma mudança deste tipo na política orçamental alemã não é tarefa fácil. O país tem cumprido à risca uma regra de Défice orçamental zero, que lhe tem permitido baixar de forma muito acentuada o rácio da dívida no PIB. O objectivo é preparar o país para os desafios orçamentais que no futuro poderão vir a ser colocados pelo envelhecimento da população. Contudo, em tempo de crise, existe a expectativa de que a regra de Défice zero seja interrompida temporariamente. O Governo liderado por Angela Merkel não põe de lado esta hipótese, mas dá mostras de apenas querer avançar para essa decisão quando a situação for inequivocamente grave.  Na semana passada, o ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, garantiu que o país será capaz de fazer face a um cenário de crise económica, mas fez questão de salientar que não esperava que os problemas fossem tão acentuados como em 2008 e 2009, a última ocasião em que a Alemanha decidiu pôr em prática uma política orçamental mais expansionista.

sergio.anibal@publico.pt

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