Não me interessa tanto saber se vai haver maioria absoluta, ou não, estou é ansioso para ver qual é o próximo truque que António Costa vai fazer para garantir mais 4 anos de absoluto sossego como PM.
Não me interessa tanto saber se vai haver maioria absoluta, ou não, estou é ansioso para ver qual é o próximo truque que António Costa vai fazer para garantir mais 4 anos de absoluto sossego como PM.
E eis que a escassos dias das eleições descobrimos que vivemos, não no que julgávamos ser um país europeu do século XXI, mas sim num conto dos irmãos Grimm. Com a diferença que estas fábulas foram obra de apenas dois irmãos, ao passo que em Portugal tudo o que é obra está a cargo dos mais variados familiares de dirigentes do Partido Socialista.
Neste reino de fantasia que habitamos há um papagaio-mor, que ninguém sabe quem é mas toda a gente percebeu imediatamente que se trata de Marcelo Rebelo de Sousa. E depois há a grã-toupeira, o primeiro-ministro António Costa, que nunca enxerga nada do que sucede mesmo ao seu lado. Ora, o roubo em Tancos e consequente demissão do ministro da defesa, Azeredo Lopes, colocou em confronto estes dois animais mitológico-políticos, tendo o Partido Socialista insinuado que o Presidente da República também estaria envolvido no encobrimento do caso. O que por um lado é grave, mas por outro cala quem acusa António Costa de fazer uma campanha repleta de promessas sem pés nem cabeça. Pode efectivamente não haver pés nem cabeça, mas pelo menos não têm faltado dedos da mão. Depois de num debate com Assunção Cristas o primeiro-ministro ter avisado que não valia a pena “estender o dedinho”, foi agora a vez do PS apontar o dedo ao Presidente da República. Enfim, longe vai o tempo, por exemplo, do “Paz, pão, povo e liberdade”. Esta campanha, por sua vez, decorre sob o signo do metacarpo, falange, falanginha e falangeta.
Ainda assim, a campanha eleitoral tem tido alguns pontos altos, como o despique que António Costa e Rui Rio têm travado para ver quem tem o melhor Centeno. Tem sido sem dúvida muito giro assistir ao bate-boca:
– O meu Centeno é melhor que o seu, sotor.
– Tenha paciência, sotor. O meu Centeno é muito superior ao Centeno do sotor.
– Ó sotor, o seu Centeno nem Centeno se chama, sotor.
– Pois não, mas quando ganharmos as eleições – e isto é uma promessa que deixo aqui – a primeira medida do meu governo vai ser mandar o homem à Loja do Cidadão mudar o nome de… de… do nome actual para Centeno.
– Ó sotor, alguma vez? Com as filas de espera provocadas pelas cativações do meu Centeno isso nem para a legislatura de 2027/2031, sotor!
A ideia que dá — mas pode ser impressão minha — é que talvez haja uma ou duas coisas mais importantes para discutir nesta campanha do que Centenos. Numa altura de grande instabilidade na Europa, com a ameaça dos nacionalismos e os riscos do Brexit, estar a discutir Centenos parece-me o mesmo que numa conversa sobre os momentos mais marcantes da história da Taça de Portugal discutir quem esteve melhor em campo na finalíssima de 1990 que pôs frente a frente Estrela da Amadora e Farense: se o médio defensivo do Estrela, Bobó, se o avançado brasileiro dos algarvios, Pitico. Ainda para mais quando é óbvio que foi Bobó, referência do meio campo da turma da Reboleira, que venceu a refrega por 2-0.
Mas por mim tudo bem. Na verdade não tenho seguido a campanha com aquela excitação de tentar antecipar os resultados. O meu entusiasmo com o dia das eleições é mais parecido com o que sentia em dias de estreia dos programas do célebre mágico David Copperfield. Não me interessa tanto saber se vai haver maioria absoluta, ou não, estou é ansioso para ver qual é o próximo truque que António Costa vai fazer para garantir mais quatro anos de absoluto sossego como primeiro-ministro. A única coisa em que Costa perde para Copperfield é que creio ser pouco provável o truque envolver a Claudia Schiffer.
Tiago Dores – Observador
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