Trump terá usado o poder do seu cargo para solicitar a intervenção de uma potência estrangeira nas próximas eleições americanas. Ou seja, fica desmentido que Trump resista à entrada de estrangeiros nos Estados Unidos: não só os acolhe como deseja que eles participem activamente na vida política da América.
Ilustração: João Fazenda
Sabemos que o mundo está em boas mãos quando o debate político reproduz, talvez com um pouco menos de sofisticação, as conversas sobre futebol. Falta na nossa grande área? Não me pareceu. Falta na grande área deles? Penalty! Por exemplo: Hillary Clinton usou o e-mail errado para as suas comunicações. Penalty! Donald Trump pediu a uma potência estrangeira para investigar um adversário político. Não me parece que haja infracção. O futuro é dos fisioterapeutas. O contorcionismo necessário para defender uma coisa e o seu inverso tem de gerar hérnias muito dolorosas na coluna. Como gosto muito de ver a imaginação humana em acção, tenho acompanhado com interesse os argumentos dos apoiantes de Trump para justificar o injustificável.
Tenho todo o gosto, aliás, em avançar com alguns argumentos que eu próprio inventei para ajudar o presidente dos Estados Unidos a evitar a destituição. Peço ao leitor que mantenha presente o seguinte pensamento, que define o espírito dos nossos dias: o que vai ler a seguir é sátira hoje, mas muito provavelmente será realidade amanhã.
O caso em que Donald Trump é alvo de algumas das mais graves acusações que já foram feitas a um presidente norte-americano revela, sem margem para dúvidas, a dimensão de grande estadista do líder dos EUA. Trump terá usado o poder do seu cargo para solicitar a intervenção de uma potência estrangeira nas próximas eleições americanas.
Ou seja, fica desmentido que Trump resista à entrada de estrangeiros nos Estados Unidos: não só os acolhe como deseja que eles participem activamente na vida política da América. É um exemplo muito refrescante de concessão de cidadania plena a naturais de outros países.
A melhor defesa de Trump é enviar ao Congresso a declaração que todos os homens fazem quando são apanhados por causa de actos que foram apanhados a cometer através do telefone: “Querida, isto não é o que parece.” Só por muita má vontade o congresso não aceitará essa justificação sincera. Sobretudo se, a seguir, Trump oferecer um anel ao congresso, para encerrar o assunto.
Trump talvez tenha feito coisas ilegais, mas pelo telefone da sala oval, que é o canal certo. Hillary Clinton pode não ter feito nada ilegal, mas comunicou pelo seu e-mail pessoal, que é o canal errado. Vamos concordar em dizer que se trata de um empate e não se fala mais nisso.
(Crónica publicada na VISÃO 1387 de 3 de outubro)
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