sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Quão grave mesmo é o que o Papa fez?

Não valerá a pena querer “limpar” esta imagem negativa que o Papa deu, ao repelir bruscamente uma mulher, batendo-lhe inclusivamente na mão. António Costa em vésperas de eleições, em 2019, não o chegou a fazer porque os seguranças o impediram, mas os do Papa não.
Ver o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=P2sTFPTTYYo
“Até Jesus teria mau feitio de vez em quando”, brinca a jornalista Aura Miguel a propósito do incidente que envolveu o Papa. Mais a sério, a vaticanista da Rádio Renascença lembra que este não é o primeiro episódio em que o Papa deixa perceber alguma brusquidão mas não atribui ao facto significado de maior.
São situações reveladoras de que o Papa “tem o seu feitio”, mas no fundo mostram apenas “que é humano”. “É de valorizar que pediu desculpa”, acrescenta Aura Miguel, referindo-se ao “improviso” feito pelo Papa Francisco durante a tradicional oração do Angelus, esta quarta-feira, primeiro dia de 2020.
António Marujo, jornalista do 7Margens e especialista em temas religiosos, considera que o gesto captado pelas câmaras e ocorrido depois de o Papa ter cumprimentado uma criança que assistia às celebração de Ano Novo no Vaticano acabou por ter “uma distorção mediática disparatada”.
Não passa de “um fait-divers”, diz ao Expresso, chamando a atenção para aquilo que na sua opinião verdadeiramente interessa, nomeadamente “as mensagens do Papa sobre o que se passa no mundo, como a situação dos refugiados ou a recente intervenção sobre o combate à violência contra as mulheres”.
“Ele próprio admitiu que foi um gesto exagerado”, sublinha António Marujo, que considera estar em causa uma reacção natural “de quem se sente puxado”.
“O Papa é uma figura idolatrada, o que leva a excessos. As pessoas sentem a necessidade de o tocar e, na verdade - olhando para as imagens -, parte de um gesto da senhora, que, coitada, também não se terá apercebido que estava a ser violenta”, diz ainda o jornalista.
Quem gosta do Papa “não deixará de o admirar”
António Marujo e Aura Miguel coincidem na leitura que fazem sobre as eventuais consequências deste episódio. Quem é crítico do Papa aproveitará o incidente para o voltar a criticar; quem dele gosta “não deixará de o admirar”, como resume Marujo.
Aura Miguel regressa à dimensão humana do Papa. Com uma frequência nunca encontrada em nenhum outro, o Papa Francisco pede que rezem por ele. “Na entrevista que lhe fiz perguntei porquê. No fundo, é porque se sente pecador e precisa de ajuda para ser Papa”, conclui a jornalista.
“Muitas vezes perdemos a paciência. Até eu, às vezes”, disse o Papa esta terça-feira. Duas das situações onde isso também aconteceu tiveram outros cenários. Aura Miguel recorda uma delas, ocorrida durante a visita papal ao México, em Fevereiro de 2016.
Depois de um encontro com jovens bailarinos e cantores na cidade de Morelia, o Papa Francisco foi cumprimentando os fiéis. Enquanto abraçava um homem numa cadeira de rodas, algumas pessoas puxaram a manga da sua batina, para o tocar, e após um puxão mais forte, que quase o fez cair, o Papa reagiu, dizendo em espanhol “não sejam egoístas, isso não se faz, não sejam egoístas”. Ver o vídeo aqui: https://youtu.be/5H2jHc4qAhw
Já em Março de 2019, durante uma visita ao santuário de Loreto, em Itália, um outro vídeo mostra o Papa a afastar repetidamente a mão quando os fiéis tentam beijar o anel que usa na mão direita, atitude que foi bastante criticada pela ala mais conservadora da igreja mas que outros consideram ser coerente com a posição do Papa Francisco, que repetidas vezes já demonstrou não ser a favor de demonstrações de veneração, lembrando que o Papa, os bispos e os padres não são príncipes - existem para servir o povo de Deus. Ver o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=wboJU8BJlh4








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