O hacker português Rui Pinto voltou esta quinta-feira ao Twitter, acusando a Justiça portuguesas de querer silenciar escândalos como o Luanda Leaks, que revelou há cerca de uma semana alegados esquemas fraudulentos que envolvem a empresária angolana Isabel dos Santos.
“Acho que os cidadãos portugueses já perceberam que a minha prolongada e desproporcional prisão preventiva tem como objectivo primordial silenciar as minhas denúncias e manter escândalos como o Luanda Leaks fechados a sete chaves”, pode ler-se numa mensagem publicada às 5h41 desta quinta-feira na rede social.
“Se dependesse da Polícia Judiciária e do Ministério Público português, estas informações nunca viriam a público, nem as autoridades angolanas alguma vez seriam informadas da existência destes dados”, continua o português, que está detido desde Março de 2019.
“Vistos Gold, ESCOM e BES Angola – há ainda muita coisa que os portugueses merecem saber”, avisa ainda Rui Pinto.
Preso desde 22 de Março de 2019, Rui Pinto revelou recentemente ser o denunciado do Luanda Leaks. “Rui Pinto procurou, assim, ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal”.
Numa nota assinada pelos seus dois advogados, pode ler-se que Rui Pinto entregou este disco rígido, “no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania”, e “sem qualquer contrapartida”, depois de tomar conhecimento das missões realizadas pela organização PPLAAF (Plataforma de Protecção de Denunciantes na África)”.
O português foi também o denunciante do Football Leaks, sendo por este caso que se encontra detido. É acusado de cerca de 90 crimes de acesso ilegítimo, acesso indevido, violação de correspondência, sabotagem informática e tentativa de extorsão.
Vigília por Rui Pinto
Duas dezenas de pessoas concentraram-se esta quarta-feira em Lisboa para exigir que seja aplicado a Rui Pinto a directiva europeia contra o branqueamento de capitais para que o hacker seja libertado e colabore com as autoridades no combate à corrupção.
A vigília à porta do Estabelecimento Prisional anexo à polícia Judiciária (PJ), em Lisboa, foi promovida pelo Movimento Mais Cidadania e juntou cerca de duas dezenas de pessoas, que empunhavam fotografias de Rui Pinto e acenderam velas, encontrando-se entre elas a dar apoio à causa da psicóloga e comentadora Joana Amaral Dias.
A antiga política disse que a concentração destina-se a exigir ao Estado português que aplique a 4.ª directiva que diz respeito ao branqueamento de capitais e que determina que todos os Estados-membros da União Europeia (UE) protejam todas as pessoas que fazem denúncias desse tipo de crimes, “coisa que efectivamente Rui Pinto fez e não está a ser protegido, porque está detido [preventivamente] ao contrário de estar a ser defendido”.
“Temos os ladrões à solta e aqueles que são os denunciantes estão presos. Isto existe porque a justiça não fez o seu papel, a justiça não fez o seu caminho. Esta situação do saque, do esbulho ao povo angolano é conhecida há muito tempo, foi denunciada por muitas pessoas, desde o Rafael Marques, a muitas outras, e a justiça fez alguma coisa. Se era assim tão falado porque é que não avançou, quando o próprio Rui Pinto terá feito denúncias ao Ministério Público (MP) sobre esta matéria que não foram ouvidas nem atendidas?”, questionou, em declarações à agência Lusa.
Joana Amaral Dias considerou que, “entre o vazio legal que não protege o denunciante e uma justiça completamente castrada e refém de outros interesses, não havia qualquer outra possibilidade que restasse ao Rui Pinto senão cometer este acto de cidadania”.
“Rui Pinto não devia estar preso, devia estar a ser chamado a colaborar com a justiça portuguesa, como tem sido na justiça belga, alemã, angolana e francesa, que já deu consequências quando foi o caso do Football Leaks”.
Entende que o estatuto de denunciante, que ministra da Justiça disse que será transposto para a lei portuguesa no prazo de um ano, “não se aplica a Rui Pinto, o que num caso lato seria o ideal, mas no concreto é restrito e tem uma aplicação muito limitada, por isso bastaria, se o Estado português quisesse aplicar a 4.ª directiva”.
“É inaceitável o que está a acontecer em Portugal actualmente, porque temos efectivamente alguém que está a contribuir para a resolução de crimes que está preso, enquanto todas as outras, desde Ricardo Salgado, a Oliveira e Costa, a Isabel dos Santos estão soltas, perante os crimes de milhões e milhões”, vincou.
Joana Amaral Dias acrescentou que Rui Pinto “terá cometido os seus erros, mas deu um contributo muito importante, muito valioso para a sociedade portuguesa e ainda pode contribuir mais e por isso é que tem de ser solto”.
Da mesma opinião é Carlos Magalhães, do Movimento Mais Cidadania, que entende, “sem querer meter a foice em seara alheia porque este é um problema da justiça”, que na situação do Rui Pinto pode-se falar num pequeno crime porque tentou extorquir, um crime de pirataria, mas o que ele sabe poderia ser aproveitado pelas autoridades policiais e judiciárias para chegar à grande criminalidade, como é o crime de corrupção”.
Também acha que devia ser libertado para colaborar com a justiça, independentemente de ser julgado e condenado a posteriori, nesta fase devia colaborar com as autoridades, não faz sentido estar em prisão preventiva.
“Era mais positivo do ponto de vista da cidadania e do erário público saber estas questões do submundo e dessas vigarices todas ao nível da corrupção seria mais importante libertá-lo e a polícia aproveitá-lo, de forma controlada, e depois sim, se houve crime de extorsão tem de pagar por isso“, declarou à agência Lusa.
ZAP // Lusa
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