sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Mais uma taxa contra quem gera riqueza.

O apetite voraz do Bloco de Esquerda pela taxação de tudo o que esteja associado à criação de riqueza é lendário, mas não se suspeitava que nesse secreto desejo punitivo entrassem até as pequenas serrações. Mas sim, nas negociações do Orçamento do Estado na especialidade, o Bloco leu uma notícia do PÚBLICO que dava conta de um conveniente esquecimento do Governo em criar uma taxa a quem explora recursos florestais e tratou de pedir contas ao ministro João Pedro Matos Fernandes. Só que em vez de assumir o disparate da medida e de reconhecer que o seu antecessor, Luís Capoulas, fez-se vítima de amnésia selectiva para que caísse na agenda do Governo, não: disse que ainda se ia a tempo de se avançar com a dita taxa.  Percebe-se o jogo do Bloco, que com palavras eloquentes quer transformar “a contribuição especial para a conservação dos recursos florestais” em mais um imposto para quem ganha a vida com a madeira. Percebe-se ainda mais porque sabemos da visceral antipatia do Bloco pelas celuloses e pelo eucalipto. Mas depois de tantas diatribes cometidas na anterior legislatura contra a fileira que gera a mais relevante exportação líquida

do país (e sim, captura carbono), uma nova taxa teria de ser ecuménica. Chega-se então à tal taxa para todos os que trabalham na floresta e ao seu inesgotável paradoxo: o que está em causa é um partido de esquerda a querer agravar a carga fiscal de minúsculas empresas do interior só porque compram e vendem madeira. Saberá o Bloco quantas pequenas serrações existem em zonas sensíveis como a do pinhal interior? Conhecerá o seu papel na criação de emprego e de riqueza? Luís Capoulas, um homem do campo, sabia que essa taxa nascida à luz das contradições da “geringonça” era uma insensatez — há mais gente no PS a concordar. O seu “esquecimento” foi uma forma cordial de se furtar ao disparate.

Como Matos Fernandes é um intelectual urbano, talvez não saiba o significado político de uma taxa aplicada a toda a actividade económica da floresta. Mas é fácil de lhe explicar, até a ele que se deve preocupar em primeira instância com o Ambiente. A floresta nacional é a fonte de riqueza principal para muitas zonas do interior. Depois de se conter o crescimento exagerado do eucalipto, está na hora de deixar de olhar a economia da floresta como um crime que se castiga com taxas e taxinhas. Portugal, como acontece na Finlândia, ou na Suécia, não pode desperdiçar os seus recursos renováveis. Embrulhem lá a taxa na ideologia e deixem as pessoas e as empresas criar riqueza.

Manuel Carvalho Publico

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