sexta-feira, 31 de maio de 2019

“Eu não devo absolutamente nada”, diz antigo dono de uma devedora da Caixa, Matos Gil.

Anteontem, o antigo dono de uma devedora da Caixa foi ao Parlamento dizer isto: "Eu não devo absolutamente nada à Caixa". E até Tomás Correia foi ao Parlamento dizer que se demitiu da administração da CGD em 2003 porque a política de crédito do banco público "tinha deixado de ser prudente". Dizem os relatos da comissão que o fez sem se rir na cara dos deputados, como fez Berardo.

Empresa Júpiter, antiga accionista da catalã La Seda, devia 89 milhões de euros à CGD em 2015. O seu antigo administrador, Matos Gil, recusa que tenha dívidas.

al como Joe Berardo, Manuel Matos Gil acusou a Caixa Geral de Depósitos de má gestão e de não ter defendido os interesses do banco. E, tal como Joe Berardo, Manuel Matos Gil diz que nada deve.

“Eu não devo absolutamente nada. A Selenis não deve absolutamente nada. A IMG não deve absolutamente nada”, afirmou o empresário português que foi parceiro da CGD na catalã La Seda, esta terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público, que tem estado a ouvir os envolvidos nas operações mais polémicas e que mais perdas causaram.

Matos Gil é o líder do grupo Imatosgil (IMG). O grupo entrou na empresa espanhola La Seda de Barcelona em 2003 e, nos cinco anos seguintes, foi reforçando a sua posição. Foi também nesse período que a CGD foi avançando na empresa catalã. E foi em 2007 que a Selenis, empresa em que o grupo IMG era accionista relevante e de que Matos Gil era presidente, fecha um contracto de financiamento com a CGD e com a Caixa Capital. O financiamento podia ir até 115 milhões de euros, garantido pelo penhor de acções de 10,9% da La Seda.

Matos Gil criticou a CGD por não ter executado esse penhor quando as garantias perderam valor (as acções da La Seda caíram), considerando irregular essa decisão do banco público: “esteve nas mãos da CGD a recuperação total do empréstimo concedido”. Aliás, também Joe Berardo tinha apontado, na sua audição, para a má gestão dos dossiês por parte das instituições financeiras.

A Selenis SGPS (que Matos Gil quis ao longo da audição deixar claro que não controlava) tornou-se em Júpiter SGPS e foi esta que, accionista de uma La Seda insolvente, viu-se sem forma de pagar ao banco público. “Não sou eu o devedor”, repetiu Matos Gil aos deputados.

No relatório da EY aos actos de gestão da Caixa, está indicado que a Júpiter devia 89,2 milhões ao banco, ainda que já todo o montante tivesse reconhecido como perdido. A empresa Júpiter foi vendida em 2009, deixando aí Matos Gil de ser accionista, mas o responsável não revelou a quem vendeu. Quem é a dona da empresa? “Não sei”, respondeu.

A La Seda, em Barcelona, foi a primeira accionista do projecto petroquímico em Sines, de que a CGD se tornou financiadora e principal accionista, e onde chegou a ter uma exposição superior a 500 milhões de euros. Conseguiu vender o empreendimento químico por 28 milhões à Indorama Ventures.

Expresso

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