Cheira-me que, se calha cruzarem-se, acabam os dois a tirar a limpo, por via de um combate de artes marciais mistas no meio da rua, quem tem menos medo do coronavírus.
Descanso desde já os leitores. Sim, é verdade que o título promete dirigentes políticos em tronco nu, mas garanto que não haverá mais qualquer menção ao torso de Marcelo Rebelo de Sousa. Menos esta referência que acabei de fazer ao busto do Presidente. E agora esta. Raisparta. Vamos avançar.
Domingo passado, Jerónimo de Sousa afirmou: “Esta epidemia (…) coloca problemas sanitários, económicos e sociais, que não são resolvidos pela limitação de direitos e pela criação de climas de medo.” O líder do PCP proferiu estas declarações num comício de apoio à candidatura de João Ferreira à Presidência da República, mas podia bem ter sido num comício de apoio à candidatura de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos da América. Trump e Jerónimo foram dos muito escassos líderes políticos a não alinharem pelo diapasão da mariquice face à Covid. Cheira-me que, se calha cruzarem-se, acabam os dois a tirar a limpo, por via de um combate de artes marciais mistas no meio da rua, quem tem menos medo do coronavírus.
É um alinhamento histórico, este entre Donald Trump e Jerónimo de Sousa. Mais incomum ainda que o alinhamento dos planetas Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno, que ocorre a cada 175 anos. E é a prova que, se até um relógio parado está certo duas vezes por dia, não é menos verdade que até um político parado em Outubro de 1917, como Jerónimo, está certo, para aí, duas vezes por década.
À hora que escrevo ainda não se sabe quem será o próximo Presidente dos Estados Unidos. O que contrasta fortemente com a realidade em Portugal onde, a meses das eleições, já sabemos quem será o próximo Presidente da República. O que pode dar ideia que a realidade americana está muito distante da nossa, quando não está. Basta ver as semelhanças que existem, por exemplo, entre as redes sociais nos EUA e os treinadores de futebol em Portugal. Ambos passam de bestial a besta em menos de nada. Com as redes sociais nos Estados Unidos foi: bestiais quando ajudaram a eleger Obama; bestas quando ajudaram a eleger Trump; e agora de novo geniais, quando conluiaram para censurar a investigação do New York Post ao alegado caso de corrupção envolvendo o filho de Joe Biden e o próprio candidato. Na verdade, no único aspecto em que uma rede social nos EUA e um treinador de futebol em Portugal diferem, ficamos a ganhar. É que é mesmo difícil dar a merecida chicotada psicológica às redes sociais.
E enquanto na Europa estamos entretidos a contemplar o suposto racismo sistémico nos Estados Unidos, somos nós próprios contemplados com a violência sistémica dos fundamentalistas islâmicos. Enquanto estamos todos especados a olhar para a América, estes, nos intervalos de estarem virados para Meca, viram-se para este lado, vêm por trás e espetam-nos os seus cutelos nos lombos. Mas atenção. Espetam os seus cutelos porquê? Porque, como explicou o bispo do Porto, Manuel Linda, em relação ao atentado de Nice, este é “o resultado dos preconceitos daqueles europeus que não só não fomentam o diálogo intercultural e inter-religioso, como até estão sempre de dedo em riste a acusar as religiões”. Não, não é, Sr. Bispo. Porque, até ver, vivemos num sítio onde um indivíduo tem todo o direito, não só de se borrifar para diálogos interculturais e inter-religiosos, como também de estar, sempre que lhe aprouver, de dedo em riste a acusar as religiões, tudo sem correr o risco de ser chinado, ou levar um tiro.
Mas, na verdade, a culpa destas declarações de Manuel Linda não pode ser totalmente imputada ao bispo do Porto. O seu Patrão não está isento de responsabilidades, pois ao querer resumir os mandamentos a dez, não estabeleceu de forma suficientemente clara algo do género: “Não te acobardarás em face da força bruta e far-te-ás um homenzinho perante aqueles que não têm qualquer respeito pela vida humana.” Agora que vejo isto escrito, percebo a omissão. As tábuas que Moisés recebeu no Sinai não tinham espaço para tantos caracteres.
Tiago Dores
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